Ando pela casa lembrando o som da
Blitz. Longe de casa há mais de uma
semana. Quase um mês. Quanto consigo bagunçar em poucas horas parece ser a
questão que me move. Muito. As malas abertas pelo chão do quarto revelam as
vísceras de um bicho findo: férias. Já há louça na pia e pequenos objetos em
cima da mesa, do sofá, do aparador. A cozinha cheira a temperos ainda
inexplorados. No que eu vou colocar fumaça? E quem sabia que tártaro em pó era
assim? Limão em pó, limão com pimenta... Cravo. Que não sei se brigou com a
rosa, agora é pó em um potinho na minha prateleira e cheira em minha mão. O
pensamento não para de bobear. Passo um tempão nos sites de móveis, coloco
coisas no carrinho, calculo fretes e desisto sempre. Nem preciso decidir se o
que me impede é a falta de dinheiro ou de gosto. Quem tem tudo, tem tudo. No meu
caso, nada. As horas seguem, indiferentes ao meu espanto de seguir nelas como
sempre. A inércia. Tudo dói, mas lembro que isso é estar viva. Durmo fora de
hora e me vejo acordando sem ar. Tenho pudor de falar qualquer coisa sobre
isso. Ou falar um isso que seja sobre qualquer coisa. E sigo respondendo "tudo
bem" porque que outra resposta pode existir para os esbarrões rápidos? Preciso
de molduras. De novos pés para a cama. De um projeto para a sala. De uma rota
de fuga.
Seremos sempre, diz o texto. E eu completo: grama sobrevivente da passagem de Átila.
Um comentário:
Escreve mais, saudades de te ler, mulher. Bjo de Lisboa onde o inverno vai chegar em força amanhã...
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