A gente (a gente aqui é
sempre eu, né, todo mundo já sacou) pensa que está preparada pra alguma coisa
(faz tempo desisti de estar preparada pra qualquer coisa). Por exemplo, eu
pensava estar preparada para esperar o resgate em alto mar por algum tempo, se
fosse o caso. Porque eu sei boiar. Posso boiar por horas. É só soltar o corpo e
respirar. Em uma dessas coisas sou imbatível e se não sou tão boa assim em
respirar, 41 anos de prática me deram algum know how. Então: eu boio bem.
Pronto. Preparadíssima. Mas, claro, a gente (eu, eu) só pensa, nesses casos,
nas coisas mais evidentes. E as disfarçadas? As sutis? Por exemplo: e a
temperatura da água? Posso boiar por um tempão, mas se a água estiver gelada a
hipotermia não vai me deixar esperar o resgate. É isso, a água está gelada e nenhum
sinal de bóias.
Acho dolorosamente surreal que possamos estar do mesmo lado do mar e, mesmo assim, fiquemos 2/3 do tempo afastados. Que vontade de mais você, Lisboa.
Acho dolorosamente surreal que possamos estar do mesmo lado do mar e, mesmo assim, fiquemos 2/3 do tempo afastados. Que vontade de mais você, Lisboa.
E tem aquela canção: bate é
na memória da minha pele. Que, por acaso, passou por aqui enquanto os olhos
acompanhavam o jogo. E sim: a pele lembra. Aliás, o corpo todo lembra. O corpo
faz memória. Se tento trazer à memória sua voz, seus olhos, seu rosto, corpo,
ditos e fatos, é o vazio que me responde. Não sei, não lembro. Mas é só fechar
os olhos e é seu gosto na ponta da minha língua. O corpo guarda. Como os
esquilos de desenho animado, o corpo acumula para os tempos de esquecimento. Do
seu jeito, claro. O corpo tem uma memória própria, sem palavras, sem imagens.
Sensações. A aspereza da mão, em movimentos suaves, percorrendo meu pescoço. A
carne se moldando ao seu peso. Os pêlos macios da coxa, as coxas roçando as
minhas. O calor da respiração meio fora de ritmo. O movimento do seu abdômen
ante meu toque, a cicatriz, os vãos. A
textura dos seus cabelos. Perturbada, inspiro mais profundamente e me vem seu
cheiro, sinto seu cheiro e ele me entontece. Eu sinto. Eu lembro. O corpo
lembra. Carne. Pulsação. Atrito. Toque. Umidade. Gosto.
Eu sei o que eu tenho pra fazer. Eu só não estou fazendo (e mantenho o cuidado com os tempos verbais).
Eu sei o que eu tenho pra fazer. Eu só não estou fazendo (e mantenho o cuidado com os tempos verbais).
2 comentários:
eu também lembro e sinto... e acordo perturbada. é muito real...
:(
Conta-me tudo, quanto tempo estiveste aqui? Gosto imenso de te acompanhar :) Bjo
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